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XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM (Lc 14,25-35)

 XXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM (Lc 14,25-35)

Neste domingo, 8 de setembro, vamos refletir sobre as condições radicais para seguir Jesus. Abrangendo os versículos de 25 a 35, os quais englobam todo o tema.

É inútil procurar uma ligação lógica entre esta parábola e o tema precedente do grande banquete aberto aos pobres. Lucas tem a sua disposição algumas sentenças sobre as condições para o seguimento de Jesus e as introduz com um novo cenário. Jesus está a caminho e uma numerosa multidão o segue. A este público ele recorda o estatuto do discípulo. Primeira condição é uma liberdade total no que diz respeito às ligações de parentesco. Do discípulo de Jesus pede-se a dedicação sem reservas que qualificava o grupo levítico em serviço da palavra de Deus e aliança (cf. Dt 33,8-11). Mas agora, no lugar da palavra da aliança, há uma pessoa concreta e histórica, Jesus, que pede a descentralização total, que chega até o sacrifício de si. Carregar a cruz quer dizer enfrentar a morte violenta, ao exemplo de Jesus e por fidelidade a ele. Estas situações-limites se tornam reais em tempo de perseguição. Mas quem quer seguir Jesus deve levar em conta também este risco. O par de parábolas que segue, a do construtor e do rei em guerra, é um convite a refletir e ponderar bem o risco daquele que quer se tornar discípulo. Trata-se de uma decisão carregada de consequências. Talvez Jesus não queira desencorajar os entusiastas que querem segui-lo, mas sugere as condições para perseverar. Na comunidade lucana, recordam-se estas palavras de Jesus, diante das traições, das rendições e defecções (deserções) dos cristãos perante as primeiras dificuldades.

A aplicação das duas parábolas, no v. 33, pode deixar a impressão de certo simplismo: Qualquer um de vós que não renunciar a tudo aquilo que possui não pode ser meu discípulo. Pode-se também suspeitar que Lucas ceda aqui a uma tendência que o leva a ver nas riquezas um perigo para a perseverança cristã, e a considerar a posse como inconciliável com a condição de discípulo (cf. 12,13-34; 16,1-13; 18,24-30). Talvez o evangelho seja mais realista do que nós pensamos. A liberdade do discípulo e a sua coragem, o desapego radical e a seriedade do compromisso tornam-se palavras vazias e abstratas até quando ele não começar a perder os bens, entendidos no sentido mais amplo. É este o são materialismo evangélico, que dá densidade histórica ao projeto de liberdade no seguimento do Cristo.

Vem bem a propósito como conclusão deste pequeno prontuário do verdadeiro discípulo a sentença sobre o sal. As palavras precedentes pediam a radicalidade do empenho, esta última exige a integridade. Não se pode ser discípulo pela metade; um discípulo que perdeu a força inovadora originária é inútil, ou antes, perigoso. Certamente, a proposta de Jesus não é para uma casta de puros, nem para um grupo de eleitos. Mas, por outro lado, um evangelho aguado e adaptado a cristãos só de registro está bem longe do projeto de Jesus. Mas na base de quais critérios deve-se estabelecer a genuinidade do evangelho e dos discípulos? Lucas propõe um teste simples e verificável sem subterfúgios jurídicos e bizantinismos teológicos: “Qualquer um de vós que não renunciar a tudo aquilo que possui não pode ser meu discípulo”.

O sábio cristão não é o sofista brilhante que explica tudo sem jamais se comprometer. É o homem que, ao mesmo tempo lúcido e convicto, investe tudo no que julga ser o sentido último da vida e da História, à luz da fé em Cristo Jesus. O sábio não é aquele que hesita quando se trata de saltar, mas aquele que salta; o que hesita é o que cai.

Que nós sejamos esse sábio!

 

 

Frei Juracy Aguiar, OFMCap (membro da PROCASP)

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